A instalação de DPS em esquema TT é um dos assuntos que mais geram dúvidas no dia a dia de eletricistas e técnicos. Isso porque, quando falamos em proteção contra surtos, não estamos apenas tratando da preservação de equipamentos, mas também da segurança das pessoas e da própria instalação elétrica.
O Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS) é responsável por desviar para o aterramento as sobretensões transitórias, causadas principalmente por descargas atmosféricas ou manobras na rede elétrica. Porém, para que ele cumpra sua função de forma eficiente, é fundamental entender onde instalá-lo, como utilizá-lo em diferentes esquemas de aterramento e quais classes são aplicáveis em cada situação.
No caso do esquema TT, seguir corretamente as orientações da NBR 5410 é indispensável. A norma apresenta diretrizes claras sobre a aplicação do DPS. Ela explica se o profissional deve instalar o dispositivo antes ou depois de outros equipamentos, como o DR. Além disso, indica os níveis de proteção adequados para cada ponto da instalação.
Neste artigo, vamos esclarecer como funciona a instalação de DPS no esquema TT, apresentar as diferentes classes de DPS e mostrar, de forma prática, como aplicar a norma para garantir instalações seguras, eficientes e em conformidade.
O que é DPS e como funciona no esquema TT?
O Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS) atua como uma barreira essencial contra sobretensões transitórias que podem ocorrer em uma instalação elétrica. As descargas atmosféricas (raios) ou as manobras de chaveamento na rede elétrica geralmente provocam essas sobretensões. Elas podem danificar gravemente equipamentos eletrônicos sensíveis, como computadores, televisores, sistemas de automação e até eletrodomésticos simples.
No esquema TT, o uso do DPS ganha uma importância ainda maior. Isso porque, nesse tipo de aterramento, cada instalação possui seu próprio eletrodo de aterramento, sem estar diretamente interligado ao neutro da concessionária. Essa característica, embora aumente a segurança em alguns aspectos, também exige mais cuidado, já que a circulação de correntes de surto pode encontrar dificuldades em se dissipar adequadamente. Assim, o DPS se torna indispensável porque desvia as sobretensões para a terra de forma eficaz. Dessa maneira, ele protege os equipamentos e preserva a integridade da instalação elétrica.
DPS em Esquema TT: possibilidades de ligação
De acordo com a NBR 5410, a instalação de DPS em esquema TT pode seguir dois caminhos distintos, cada um com finalidades específicas:
1. Instalação antes do DR – nessa configuração, o DPS é posicionado a montante do dispositivo diferencial residual (DR). Isso significa que o sistema de aterramento direciona qualquer surto de tensão antes mesmo que o DR atue. A grande vantagem desse método é que ele protege toda a instalação contra sobretensões transitórias, incluindo os próprios dispositivos de proteção, como o DR e os disjuntores.
2. Instalação depois do DR – aqui o DPS é colocado a jusante do DR, ou seja, após o dispositivo diferencial. Essa opção garante uma proteção complementar que atua diretamente nos circuitos e equipamentos conectados depois do DR. Muitos profissionais utilizam esse recurso quando desejam reforçar a proteção em pontos mais sensíveis da instalação, como equipamentos eletrônicos ou sistemas que exigem maior confiabilidade.
Ambas as opções são aceitas pela norma, mas a decisão não deve ser feita de forma genérica. É necessário avaliar o projeto elétrico, os tipos de cargas instaladas, o nível de proteção desejado e até as recomendações do fabricante do DPS. Dessa forma, é possível garantir que o dispositivo funcione de maneira eficiente, aumentando a segurança e a durabilidade dos equipamentos.
Como conectar corretamente o DPS em esquema TT ao aterramento
O instalador deve conectar o Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS) de forma adequada ao barramento de equipotencialização principal (BEP). Essa ligação é essencial, pois conduz as sobretensões transitórias – originadas por descargas atmosféricas ou manobras na rede elétrica – de maneira segura até o solo.. Dessa forma, evita-se que essas correntes de surto circulem pelos condutores da instalação e atinjam os equipamentos conectados, preservando tanto a fiação quanto os aparelhos eletrônicos mais sensíveis.
Além disso, é importante entender que a eficiência do DPS depende diretamente da qualidade dessa conexão com o sistema de aterramento. Cabos muito longos, mal dimensionados ou mal fixados podem comprometer a proteção, aumentando a impedância do caminho e reduzindo a eficácia da descarga para a terra.
Por isso, o cuidado principal é sempre respeitar as instruções do fabricante. Normalmente, os fabricantes disponibilizam diagramas de instalação específicos para cada modelo de DPS, indicando o ponto exato de ligação, a bitola mínima do condutor de aterramento e até mesmo a distância recomendada até o BEP. Seguir esses diagramas não é apenas uma boa prática, mas sim uma garantia de que o dispositivo atuará conforme projetado, assegurando a máxima proteção da instalação elétrica.
Classes de DPS no esquema TT: proteção em diferentes níveis
A instalação de DPS em esquema TT exige entender bem as classes disponíveis, já que elas funcionam de forma complementar e formam uma proteção em camadas.
A Classe 1 deve ser instalada no padrão de entrada da instalação elétrica. Ela é responsável por suportar e desviar surtos de grande intensidade, geralmente provocados por descargas atmosféricas diretas ou indiretas. Essa primeira barreira evita que a maior parte da energia chegue ao interior da instalação.
Já a Classe 2 deve ser aplicada no quadro de distribuição. Ela atua contra sobretensões de nível médio, que podem resultar de manobras na rede elétrica ou da energia residual que escapou após a atuação do DPS Classe 1. Com isso, garante-se que os circuitos internos da residência ou do comércio fiquem em condições mais seguras.
Por fim, a Classe 3 deve ser instalada em tomadas de uso geral. Essa etapa é especialmente importante para proteger equipamentos mais sensíveis, como computadores, televisores, roteadores e outros dispositivos eletrônicos. Ela filtra as pequenas elevações de tensão que ainda poderiam causar danos irreversíveis a aparelhos delicados.
Portanto, essa estratégia de proteção em camadas reduz progressivamente o impacto de um surto elétrico, aumentando a confiabilidade da instalação e preservando tanto a fiação quanto os equipamentos conectados.
Cuidados na escolha e instalação do DPS
Ao escolher um DPS, não basta apenas olhar para o preço ou confiar em indicações informais. É fundamental analisar os parâmetros técnicos que garantem o funcionamento adequado do dispositivo. Um dos pontos mais importantes é a corrente suportada em kA (kiloampères). Esse valor indica a capacidade do DPS de suportar surtos de tensão. Descargas atmosféricas ou manobras na rede elétrica podem causar esses surtos.
De acordo com a NBR 5410, os dispositivos de classe 2, que geralmente são instalados no quadro de distribuição, devem ter uma capacidade mínima de 10 kA. No entanto, muitos fabricantes oferecem modelos mais robustos, de 12 kA ou até mais. Esses dispositivos garantem maior segurança em regiões com alta incidência de descargas elétricas.
Além disso, outro ponto crucial é que o profissional deve evitar instalar o DPS de maneira improvisada ou copiar práticas de colegas de profissão. Cada instalação elétrica possui particularidades. Seguir as orientações da norma técnica e dos manuais do fabricante é a única forma de garantir que o dispositivo cumpra seu papel de proteção. Isso assegura segurança para pessoas, preservação dos equipamentos e conformidade com as exigências legais.
Conclusão: eficiência e segurança no esquema TT
A instalação de DPS em esquema TT é indispensável para proteger instalações elétricas contra surtos, evitando danos em equipamentos e garantindo maior segurança para pessoas e patrimônios. No entanto, essa proteção só é eficaz quando realizada corretamente.
Primeiro, é fundamental conhecer as classes de DPS. A Classe I, instalada na origem da instalação (no padrão de entrada), protege contra descargas diretas de raios. A Classe II, localizada no quadro de distribuição, atua contra surtos induzidos. Já a Classe III, aplicada diretamente em equipamentos sensíveis como computadores e eletrônicos, garante uma proteção fina e localizada.
Além disso, a escolha correta do ponto de instalação é essencial. Um DPS mal posicionado ou fora das recomendações técnicas pode comprometer a proteção da rede. É igualmente importante respeitar as orientações da NBR 5410. Também é necessário seguir as instruções específicas de cada fabricante, pois os diagramas fornecidos mostram a forma correta de ligação em diferentes cenários de aterramento.
Portanto, mais do que instalar o dispositivo, o eletricista precisa entender o funcionamento do sistema, avaliar o ambiente e aplicar boas práticas de projeto. Assim, o DPS cumpre seu papel de forma eficiente, preservando a instalação elétrica e aumentando a confiabilidade do sistema.
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