Muitos eletricistas ainda têm dúvidas sobre como o torque se comporta quando um motor trifásico é controlado por um inversor de frequência. Um dos mitos mais comuns é acreditar que, ao reduzir a velocidade do motor, o torque no motor com inversor de frequência também diminui automaticamente. Mas será que isso é verdade?
A resposta é: não, se o sistema estiver corretamente configurado. Vamos entender o porquê.
Para compreender o funcionamento do inversor de frequência, é importante saber que ele não apenas ajusta a velocidade do motor, mas realiza um controle simultâneo de dois parâmetros essenciais: a frequência e a tensão elétrica aplicadas ao motor trifásico.
Esse controle conjunto é o que permite ao motor funcionar de forma estável, eficiente e segura em diferentes rotações. Isso significa que, mesmo quando o motor está operando em velocidades mais baixas do que o normal, o torque (ou força de rotação) não é comprometido, desde que o sistema esteja corretamente ajustado.
Mas como isso é possível?
O inversor segue um princípio técnico chamado curva V/F, que representa a proporcionalidade entre a tensão (V) e a frequência (F). Basicamente, isso quer dizer que, à medida que a frequência de operação diminui, a tensão também é reduzida na mesma proporção. Essa relação é cuidadosamente mantida pelo inversor.
Essa proporção controlada garante que o campo magnético dentro do motor seja mantido em níveis ideais, o que é fundamental para preservar o torque necessário para o funcionamento. Ou seja, mesmo em baixa rotação, o motor continua gerando a força necessária para mover cargas com eficiência — exatamente porque o inversor está mantendo a tensão compatível com a nova frequência.
Vamos entender melhor com um exemplo real e simples:
Imagine um motor trifásico que trabalha com tensão nominal de 220 V e frequência de 60 Hz — que são condições padrão de operação. Nesse cenário, o motor funciona com seu torque nominal e desempenho esperado.
Agora, suponha que você deseje reduzir a velocidade desse motor utilizando um inversor de frequência, ajustando a frequência para 20 Hz — o que corresponde a aproximadamente 1/3 da velocidade máxima.
Se o inversor apenas reduzisse a frequência para 20 Hz sem alterar a tensão, o motor passaria a operar com uma tensão de 220 V, mas a frequência reduzida. Isso quebraria a proporção V/F (tensão por frequência) e, como resultado, o motor perderia torque, já que a densidade do campo magnético diminuiria.
Porém, não é isso que acontece. Os inversores modernos são projetados para manter a relação V/F constante, o que é essencial para preservar o torque do motor.
Assim, ao diminuir a frequência para 20 Hz, o inversor também reduz automaticamente a tensão para cerca de 80 V. Isso mantém a proporção de tensão/frequência próxima da original (220 V / 60 Hz ≈ 3,66 V/Hz), mesmo em baixas velocidades.
✅ Resultado: mesmo com a velocidade reduzida, o torque no motor com inversor de frequência continua praticamente o mesmo. Isso garante que o motor funcione de forma eficiente, sem sobrecarga ou perda significativa de força mecânica.
Esse comportamento é o que torna o inversor de frequência tão eficiente e confiável em aplicações industriais que exigem controle de velocidade com desempenho constante.
Isso só é possível porque os inversores de frequência modernos utilizam tecnologia avançada para realizar o controle simultâneo de dois parâmetros essenciais do motor: a frequência e a tensão elétrica. O inversor monitora constantemente a frequência de operação e calcula automaticamente o nível ideal de tensão, fornecendo-o ao motor e mantendo a proporção correta entre tensão e frequência (relação V/F).
Esse ajuste dinâmico e inteligente permite que o motor mantenha o torque necessário mesmo em situações críticas, como nas partidas suaves (quando o motor ainda está parado) ou durante operações em velocidades muito baixas, onde normalmente o torque tenderia a cair.
Além disso, esse tipo de controle proporcional traz diversos benefícios práticos, como:
Proteção dos componentes elétricos e mecânicos, ao evitar picos de corrente e sobrecarga no sistema.
Melhora no desempenho do motor, com respostas mais suaves e eficientes em diferentes faixas de rotação.
Aumento da vida útil do motor e dos seus circuitos associados, já que há menos estresse térmico e elétrico durante a operação.
Ou seja, esse controle inteligente do inversor de frequência é o que garante uma performance estável e confiável, mesmo em condições variáveis de trabalho.
A crença de que a redução da velocidade do motor provoca, obrigatoriamente, uma queda no torque é incorreta, desde que o controle esteja sendo feito por um inversor de frequência devidamente configurado.
A proporção correta entre tensão e frequência (curva V/F) garante a manutenção do torque durante toda a operação. O inversor gerencia automaticamente essa curva e ajusta a tensão conforme a frequência definida. Com isso, o motor continua operando com torque praticamente constante, mesmo em rotações mais baixas.
Portanto, afirmar que o torque no motor com inversor de frequência cai em baixas velocidades é um mito técnico. Tal afirmação, quando aplicada sem conhecimento, pode levar a erros no dimensionamento do sistema, falhas operacionais e interpretações equivocadas durante diagnósticos e manutenções elétricas.
Em resumo, o torque no motor com inversor de frequência não está diretamente ligado à velocidade de rotação. Ou seja, mesmo ao reduzir a rotação do motor, você consegue manter o torque estável — desde que configure corretamente o inversor.
Isso acontece porque o inversor de frequência controla de forma proporcional a tensão e a frequência aplicadas ao motor. Essa proporção equilibrada, conhecida como curva V/F (tensão/frequência), é o que garante que o torque permaneça constante, mesmo em baixas velocidades.
Portanto, não é a velocidade que determina o torque, mas sim o equilíbrio técnico entre os dois parâmetros controlados pelo inversor. Essa informação, embora pareça simples, evita muitos erros na prática — principalmente em aplicações industriais, onde o desempenho do motor é crucial.
🔧 Por que isso é importante para o eletricista?
Se você trabalha com manutenção de motores, automação industrial ou instalação de sistemas elétricos, compreender essa relação técnica é indispensável. Eletricistas que dominam esse tipo de conhecimento não apenas evitam falhas e retrabalho, como também se destacam como profissionais mais qualificados no mercado.
Aprofunde-se nesse e em muitos outros conceitos técnicos com o treinamento completo de Inversores de Frequência e Soft Starter disponível na Comunidade Eletricista Classe A.
Lá você terá acesso a aulas com aplicação prática, baseadas em situações reais do dia a dia da elétrica industrial. É o conteúdo ideal para quem deseja subir de nível na profissão e conquistar mais oportunidades com segurança e confiança.
Deixe o seu comentário