Muitos profissionais da área elétrica sabem o que é um disjuntor e como ele atua na proteção dos circuitos. No entanto, poucos conhecem em profundidade as curvas de disjuntores, que são classificações técnicas capazes de determinar em quais situações o disjuntor irá atuar — especialmente quando há picos de corrente durante a energização de equipamentos.
Entender essas curvas é fundamental para garantir que o disjuntor proteja adequadamente o circuito. Uma escolha incorreta pode causar falhas graves. Entre elas, estão a queima de equipamentos eletrônicos, desarmes frequentes e desnecessários. Além disso, uma sobrecorrente que não é interrompida a tempo pode causar incêndios.
Por isso, dominar o conceito de curvas de disjuntores é um passo essencial para qualquer eletricista que busca realizar instalações seguras, eficientes e de acordo com as normas.
As curvas de disjuntores representam o comportamento do disjuntor diante de picos de corrente elétrica que ocorrem em um curto espaço de tempo, especialmente no momento da energização de uma carga. Em outras palavras, indicam quantas vezes a corrente pode ultrapassar o valor nominal do disjuntor antes que ele atue (desarme).
Equipamentos com características indutivas, como motores, reatores e transformadores, geram esses picos porque exigem uma corrente maior no instante em que são ligados — conhecida como corrente de partida. Isso é diferente das sobrecargas contínuas, que acontecem quando a corrente permanece elevada por um tempo mais longo do que o normal.
Para garantir que os disjuntores sejam escolhidos corretamente de acordo com o tipo de carga, a norma ABNT NBR NM 6898 estabelece três principais categorias de curvas de atuação para uso residencial e comercial: curva B, curva C e curva D. Cada uma delas atende a um perfil específico de carga elétrica e possui uma sensibilidade diferente ao aumento abrupto de corrente.
A curva B é indicada para proteger equipamentos com cargas resistivas, ou seja, aqueles que não precisam de uma corrente elevada no momento em que são ligados. Exemplos comuns incluem chuveiros elétricos, aquecedores e tomadas de uso geral (TUGs), onde se conectam eletrodomésticos como ferros de passar, micro-ondas e cafeteiras.
Esse tipo de disjuntor suporta correntes instantâneas entre 3 e 5 vezes o valor nominal. Para ilustrar: se você estiver usando um disjuntor de 10 amperes, ele conseguirá suportar, no máximo, até 50 amperes de corrente de partida (10A x 5), por um curto período.
Essa sensibilidade mais alta aos picos de corrente torna a curva B ideal para evitar disparos desnecessários, protegendo bem os circuitos onde as variações de corrente são pequenas. Além disso, seu tempo de resposta é mais rápido. Isso ajuda a isolar o problema com mais agilidade em casos de curto-circuito ou sobrecarga. Como resultado, a segurança da instalação aumenta consideravelmente.
A curva C oferece mais robustez do que a curva B e, por isso, eletricistas a utilizam amplamente em instalações com cargas mistas — ou seja, que combinam cargas resistivas e indutivas.
Esse tipo de disjuntor é capaz de suportar correntes de pico entre 5 e 10 vezes o valor nominal. Por exemplo, se o disjuntor for de 10 amperes, ele pode suportar até 100 amperes de corrente instantânea. Isso ocorre sem desarmar imediatamente. Esse comportamento é essencial em circuitos onde a corrente de partida é naturalmente mais alta.
A curva C é ideal para proteger equipamentos como:
Motores de pequena e média potência, que puxam mais corrente ao serem ligados;
Bombas de piscina, comuns em residências e clubes;
Reatores de lâmpadas fluorescentes, usados em iluminação mais técnica;
Sistemas de hidromassagem, que exigem uma corrente elevada na partida.
O disjuntor de curva C suporta melhor correntes transitórias. Por isso, oferece um bom equilíbrio entre proteção e funcionamento contínuo. Ele evita desligamentos desnecessários em equipamentos com picos de corrente na partida.
Quando o assunto são cargas pesadas — como motores de grande porte, transformadores robustos ou máquinas de solda industriais — o tipo de disjuntor mais indicado é o de curva D.
Esse tipo de disjuntor é projetado para suportar correntes de partida extremamente altas, variando de 10 a 20 vezes a corrente nominal. Por exemplo, um disjuntor com corrente nominal de 10 amperes pode suportar, por um curto período, até 200 amperes de pico (10A x 20).
A curva D é menos sensível em comparação com os disjuntores de curvas B e C, ou seja, ela demora mais para disparar, pois exige uma corrente muito mais elevada para atuar. Essa intenção é necessária porque muitos equipamentos industriais consomem bastante energia nos primeiros segundos após a ligação.
Assim, esse disjuntor evita desligamentos desnecessários durante a partida, garantindo que o sistema continue funcionando normalmente mesmo com essas demandas iniciais intensas. É a escolha certa para instalações onde a resistência ao pico de corrente é essencial para a operação segura e estável.
Um fato curioso e importante sobre os disjuntores é que não existe uma curva de atuação classificada como tipo A. Essa ausência não é por acaso. Na verdade, ela foi uma decisão técnica proposital para evitar confusões com a unidade de medida “Ampère”, que é representada pela letra “A” no sistema internacional de unidades.
Imagine, por exemplo, um disjuntor com marcação “10 A” (10 Ampères). Por esse motivo, se também existisse uma curva A, poderia facilmente parecer que esse disjuntor tem curva A e, ao mesmo tempo, 10 Ampères de corrente nominal. Como resultado, isso geraria interpretações erradas durante a leitura e a seleção do componente.
Portanto, a ausência da curva A serve para padronizar e facilitar a leitura das especificações técnicas dos disjuntores, evitando erros no momento da escolha e aplicação desses dispositivos de proteção.
Usar a curva errada de disjuntor pode causar sérios problemas na instalação elétrica, tanto em termos de desempenho quanto de segurança.
Por exemplo:
Ao instalar um disjuntor de curva B para proteger um motor elétrico, você provavelmente verá o disjuntor desarmar toda vez que ligar o motor. Isso acontece porque motores exigem uma corrente inicial muito alta (corrente de partida), e a curva B, por ser mais sensível, não suporta esse tipo de pico.. O resultado? Desligamentos constantes e interrupções indesejadas no funcionamento do sistema.
Por outro lado, se você utilizar um disjuntor de curva D em uma instalação residencial comum, onde as cargas são geralmente resistivas (como lâmpadas e tomadas), esse disjuntor pode demorar demais para atuar em caso de falha ou curto-circuito. Isso aumenta significativamente o risco de danos aos equipamentos e até de incêndios, comprometendo a segurança do ambiente.
Por isso, entender as curvas de disjuntores é fundamental. Essa escolha influencia diretamente na proteção dos circuitos, na durabilidade dos equipamentos e na redução de custos com manutenção. Cada tipo de carga elétrica exige uma resposta diferente do disjuntor — e escolher corretamente evita problemas e garante uma instalação segura e eficiente.
As curvas de disjuntores vão muito além de um simples detalhe técnico. Elas são, na verdade, fundamentais para garantir a segurança, o desempenho e a durabilidade de qualquer sistema elétrico. Desde instalações residenciais até ambientes industriais mais exigentes, é essencial saber escolher o disjuntor correto. A seleção deve levar em conta o tipo de carga envolvida. Essa escolha é o que diferencia uma instalação confiável de uma que gera falhas constantes e riscos à segurança.
Por isso, todo eletricista profissional precisa dominar esse conhecimento. Compreender como funcionam as curvas B, C e D — e em que contextos aplicá-las — é essencial para proteger pessoas, equipamentos e a própria reputação do profissional.
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