No ano de 2020, fui contratado para projetar uma instalação elétrica em um sobrado dividido em cinco residências. Minha responsabilidade era realizar o levantamento de carga e elaborar o dimensionamento do padrão de entrada para solicitar o fornecimento de energia elétrica. Durante esse processo, surgiu uma dúvida técnica importante relacionada à escolha entre DR tetrapolar vs tripolar, um ponto crucial para garantir a segurança e conformidade da instalação.
Durante a execução da obra, assumi o papel de responsável técnico e, para emitir a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), exigi a instalação de Dispositivos Diferenciais Residuais (DRs) e Dispositivos de Proteção contra Surtos (DPSs) em todos os cinco quadros de distribuição. A instalação elétrica era monofásica, utilizando duas fases e um neutro.
Enquanto eu estava em atividade na Sala da Elétrica, recebi uma ligação do responsável pela obra da residência. Ele havia ido comprar os dispositivos que eu havia especificado anteriormente — os DRs (Disjuntores Diferenciais Residuais) e os DPSs (Dispositivos de Proteção contra Surtos). No entanto, ao chegar na loja, encontrou um problema.
Na ligação, ele explicou:
“Olha, fui adquirir os DRs e os DPSs como você recomendou, mas não encontrei o DR tripolar que você pediu. O atendente aqui sugeriu usar um DR tetrapolar no lugar. Isso funciona? Pode ser feito assim mesmo?”
Essa dúvida é muito comum entre profissionais e clientes: afinal, é possível substituir um DR tripolar por um DR tetrapolar? A pergunta faz sentido, já que ambos os dispositivos têm propósitos semelhantes, mas diferem em número de polos e aplicações. A seguir, explicamos a resposta e os critérios para essa substituição de forma segura e eficiente.
Sim, é possível usar o DR tetrapolar no lugar do tripolar. Aliás, alguns fabricantes nem produzem mais o modelo tripolar. O DR tetrapolar possui quatro terminais e, mesmo em instalações monofásicas, é possível utilizar dois terminais para as fases e um para o neutro, deixando um terminal sem uso ou aterrado, dependendo do modelo e da recomendação do fabricante.
Custo-benefício aprimorado: Embora o DR tetrapolar tenha mais polos que o tripolar, ele geralmente é mais barato. Isso acontece porque o tetrapolar é produzido em maior escala pelas indústrias, o que diminui o custo de fabricação por unidade. Além disso, a maior oferta no mercado torna os preços mais competitivos, resultando em uma economia significativa, principalmente quando se trata de instalações múltiplas, como prédios e sobrados com várias unidades.
Facilidade de aquisição: O DR tetrapolar é mais comum e amplamente disponível nas lojas de materiais elétricos e nos distribuidores. Isso significa que, em situações de emergência ou prazos apertados, é mais provável encontrar o modelo tetrapolar rapidamente, evitando atrasos na obra por falta de equipamento.
Maior versatilidade de uso: Um dos grandes diferenciais do DR tetrapolar é sua capacidade de ser utilizado tanto em sistemas trifásicos quanto em sistemas monofásicos, desde que feita a adaptação correta. Em sistemas monofásicos, por exemplo, é possível utilizar apenas dois dos quatro polos do equipamento (dois para fase e um para neutro), mantendo a proteção e o desempenho. Essa flexibilidade torna o tetrapolar uma opção prática e eficiente para diversos tipos de instalações elétricas.
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Embora seja tecnicamente viável substituir um DR tripolar por um tetrapolar em algumas situações, essa substituição exige cuidados específicos para garantir que a instalação continue segura, eficiente e esteja em conformidade com as normas técnicas. A seguir, explicamos cada ponto com mais detalhes:
Verifique a compatibilidade com a instalação
Antes de instalar o DR tetrapolar, analise cuidadosamente se ele é compatível com a tensão, corrente nominal e número de fases da sua instalação elétrica. Por exemplo, em uma instalação monofásica com dois condutores de fase e um neutro, você deve conectar os condutores corretamente nos terminais apropriados do DR tetrapolar. O mau dimensionamento ou instalação incorreta pode comprometer a proteção contra choques elétricos.
Consulte o fabricante
Cada fabricante pode ter especificações técnicas diferentes quanto à forma correta de instalação e uso de seus dispositivos. Por isso, você deve ler atentamente o manual técnico que acompanha o produto. Em caso de dúvidas, entre em contato com o suporte técnico do fabricante. Eles podem esclarecer detalhes sobre conexões corretas, ajustes de sensibilidade e até indicar modelos mais apropriados ao seu projeto.
Evite improvisações e siga a NBR 5410
A norma NBR 5410 estabelece os requisitos técnicos para instalações elétricas de baixa tensão no Brasil. Qualquer adaptação, como a substituição de um DR tripolar por um tetrapolar, deve estar de acordo com essas diretrizes. Improvisações sem embasamento técnico podem gerar riscos graves, como falhas na proteção diferencial, curto-circuitos ou incêndios. Portanto, um profissional qualificado deve sempre realizar a instalação, seguindo a norma vigente.
A escolha entre DR tetrapolar vs tripolar não precisa ser um problema. O DR tetrapolar pode ser uma excelente alternativa ao tripolar, oferecendo vantagens como economia, versatilidade e maior disponibilidade no mercado.
No entanto, é fundamental que o eletricista tenha conhecimento técnico e siga as orientações do fabricante e da NBR 5410. Dessa forma, é possível garantir a segurança da instalação e a tranquilidade do cliente.
Quer aprender mais sobre como aplicar essas soluções na prática e se destacar como profissional? Acompanhe os conteúdos da Sala da Elétrica e eleve o nível dos seus projetos elétricos.
Comentários
Joao Macuanja
Gostei da informacao que encontrei da descricao do formador, eu quero aprender!
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